Em busca da maternidade
Mãe! Mamãe! Mami! Manhê! Alguns dos chamados para aquela que todo mundo tem, mesmo aqueles que nunca a conheceram. Na minha casa há silêncio. Silêncio à espera de ser rompido por um desses chamados. Em mim há desejo. Um desejo enorme de que o espaço desse tal silêncio seja preenchido. Com choros, risadas, com o lúdico grito das brincadeiras da infância.
De onde vem um desejo assim? Não sei. Só sei que existe e toma conta, mesmo parecendo ilógico trazer trabalho não remunerado para uma vida da qual também quero extrair plenitude.
Eu não me lembro de já ter lido uma história assim, sendo contada antes do fim. Parece que enquanto não se consegue alcançar a realização, não há nada a ser dito e escrevo assim mesmo. Pensei que seria bem mais fácil falar sobre isso. Ledo engano. Dói um pouco a cada tecla tocada, mas continuo.
Sigo ouvindo: “Você é mãe? ” E respondendo: “Não ainda. ”
Negativo.
Negativo.
Negativo.
Positivo!
Duas semanas de pura alegria!
Aborto espontâneo. Dor, muita dor. Luto.
Acontece, não é mesmo? Se considerarmos o total de gestações a partir do momento em que ocorre e fecundação, de 30% a 40% terminam em abortamento espontâneo, certo? Certo, mas e daí? Não há estatísticas para medir o tamanho do buraco que se abriu em mim.
O silêncio não está mais só em casa.
Você é mãe? ”, eu: “Não ainda. ”
Negativo.
Há barrigas por todos os lados, há barrigas em tudo o que eu vejo. Eu cantarolo a frase como se verso fosse ao ritmo daquela música do Titãs. Sabe aquela? “Há flores por todos os lados, há flores em tudo que eu vejo”.
Negativos.
Até que “positivo” de novo! Medo e alegria, alegria e medo, assim mesmo, como se um não pudesse existir sem o outro.
Três semanas assim, mais uma perda. Luto, parte 2. O que há de errado em mim? As estatísticas mostram: Os abortamentos são mais comuns principalmente acima dos 35 anos da mulher. É também nessa faixa etária que aumenta a possibilidade de malformações e anomalias fetais que levam ao abortamento espontâneo. Nossa! Eu tenho 39. E o buraco aumenta um pouco mais se enchendo com mais daquele silêncio, que antes habitava só a minha casa.
Investiguemos.
Quem procura acha: trombofilia gestacional associada a aloimunidade. Traduzindo: um útero que não alimenta o feto e um corpo que combate uma gravidez como se doença fosse.
Tratamento há.
Continuemos, com medo mesmo…
Negativo. Barrigas em gente que jamais imaginou tal feito em suas vidas. Inveja.
“Mãe? ” E eu: “Não ainda. ”
Negativos.
Atraso de 15 dias. Será? Ainda não. Há possibilidade de ter acontecido mais uma vez. Outro luto. Mais curto. Menos intenso, menos sofrido. E o buraco? Acho que me calejei.
Coito com hora marcada, partes, 1, 2 e 3. Uma trilogia? Não. Ansiedade.
Inseminação, capítulos 1 e 2 e, continuemos.
“Filhos? ” Eu: “Quem sabe um dia. ”
Entrega.
Fabiana Dutra
Jana, achei seu texto sobre a maternidade maravilhoso. Você tem minha admiração pela pessoa maravilhosa que é e pela coragem de compartilhar sua história! Muito sucesso na sua vida. Um beijo enorme, Fabi.