Você já pensou ter a obrigação de trabalhar 18 horas por dia?
Pois é. Esta é uma das razões pelas quais o 1º de maio é comemorado como o dia do trabalhador.
Foi num 1º de maio, no ano de 1886 que, em Chicago (EUA), uma greve foi iniciada pleiteando por melhores condições de trabalho, principalmente visando a redução da jornada de trabalho diária, que acredite, chegava a 18 horas por dia.
Passado todo esse tempo, muita evolução houve no mercado de trabalho em um amplo contexto, contudo as mudanças não pararam e não param. Hoje um fenômeno relacionado ao universo profissional, chamado de “a grande resignação” vem levando trabalhadores a pedir demissão com o intuito de repensar sua relação com o trabalho.
E isso me faz lembrar a obra do filósofo Byung-Chul Han, “Sociedade do Cansaço”, trazendo a ideia de que a sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. E que este sujeito de desempenho, encontra-se em guerra consigo mesmo. Em sua obra ressalta que excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa auto exploração. E que esta auto exploração é mais eficiente que uma exploração do outro, como as que vivíamos quando pedimos redução de jornada laboral aos empregadores, ao estado. A auto exploração caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos.
Ou seja. Não precisamos mais de um chefe nos exigindo. O sujeito da sociedade do cansaço faz isso com ele próprio. Como diz o próprio autor da obra, você se entrega à livre coerção de maximizar o desempenho e os adoecimentos psíquicos da sociedade do desempenho (ou do cansaço) são precisamente as manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal.
O que quero dizer com isso é: Entendo que eu, você, e todos que vivemos e trabalhamos atualmente estamos despertando para o fato de que não dá para correr da gente mesmo, não é possível fugir de si mesmo e o fenômeno da resignação, na minha humilde opinião é só mais um marcador para um despertar de consciência em outro nível com relação a forma como nos relacionamos com o trabalho, principalmente no mundo ocidental. Depois de dois anos de pandemia tivemos nossos valores remexidos, o que era importante antes talvez não seja mais tanto, outras coisas talvez antes não tão valorizadas hoje liderem seu ranking de prioridades na vida. A vida está te pedindo mais sentido e o trabalho é uma parte dela. Não dá pra ignorá-lo.
O problema não é o ambiente profissional. Pode ser que você até tenha se livrado dele de certa forma agora trabalhando de casa todo santo dia.
O problema não é seu chefe. Ele continuará não sendo perfeito, assim como todos nós, mas só mudará e se tornará um ser humano melhor se ele assim quiser.
O problema não são seus colegas, seus pares, tampouco seus funcionários.
E quando esta verdade te bate à porta, você começa a desconfiar que o “problema” está em você, com você e não separado de você. Você e seu problema relacionado ao trabalho são criador e criação. A questão está na forma como escolhe reagir e encarar o desafio, a situação que não está boa como está, mas às vezes isso tudo é muito difícil de admitir e outra coisa ainda mais difícil de admitir: a solução também é sua, não virá de outro lugar.
Ou seja, de novo insisto, “de você mesmo não vai dar para correr”, portanto neste dia do trabalhador eu te desejo resignação, mas num outro sentido da palavra, diferente do que usei quando me referi ao fenômeno da grande resignação. Resignação no sentido de aceitação do que quer que esteja emergindo em você no que diz respeito à sua relação atual com o trabalho. Seus incômodos, sua raiva, sua dor de não estar se sentindo plenamente realizado no trabalho, assim como aceitar não saber o que fazer a respeito do tema. Não saber é a melhor resposta a ser dada antes de buscar por qualquer outra.
É deste tipo de resignação, que entendo precisarmos, para realizar as transformações desejadas na relação com o fazer profissional, o que inevitavelmente trará mais sentido inclusive à sua vida como um todo.
*Foto de Ketut Subiyanto no Pexels