Não há dor!
Esta foi a resposta dada por um cliente quando questionado sobre qual era a dor de estar na situação por ele relatada ao procurar por meu trabalho. Segui com a sessão enquanto ouvia muito sobre a necessidade de certezas, de garantias e o meu radar medo foi ativado: Onde há muito desse tipo de necessidade há medo e onde há medo, há dor! Explico.
Por muito tempo eu ignorei o fato de sentir medo. Eu podia jurar de pés juntinhos que só tinha medo de barata, só pra não dizer que não tinha medo algum e parecer mais normal, vamos dizer assim. O único porém disso é que ignorando o medo, passando batido por ele, fazendo de conta que ele nunca estava por ali, juntinho de mim, ele foi ganhando forças, até que muito bravo comigo e com toda a minha soberba resolveu dar as caras como se estivesse de mim se vingando.
Taquicardia.
Sudorese.
Falta de ar.
Enjoo.
Poderia também jurar que estava morrendo. A sensação era exatamente essa. Não consigo descrever de outra forma. Só que eu não morri, portanto segui tentando ignorá-lo. Tive outras crises como essa durante muitas noites sem saber do que se tratavam, sem saber do seu real significado: eram a manifestação física do medo. Já que não queria olhar para o medo, ele se fez visível.
Chame do que quiser: crise de ansiedade, pânico… Eu mesma chamei de intolerância à lactose por um tempo, em mais uma tentativa frustrada de ignorar meu medo. Somente quando pude reconhece-lo, chama-lo de medo, cumprimenta-lo por assim dizer, é que as crises sumiram. Eu havia decidido ser educada com ele, respeitá-lo, no mínimo cumprimenta-lo quando ele dava às caras.
Passado um tempo dessa amizade com o medo, afinal, quanto mais eu o cumprimentava mais ele me deixava em paz, resolvi chama-lo para uma conversa.
Eu: Medo, por que está sempre por aqui?
E ele me disse: Sou importante!
Eu: Importante?
Ele: Sim. Você precisa de mim, mas quanto mais me ignora maior é o seu sofrimento.
Perguntei: O que eu temo?
Ele disse: A dor! E me perguntou: O que é dor para você?
Eu respondi: É a morte.
A morte, pelo menos a física, sempre foi para mim a única certeza da vida. A única verdadeira garantia. Contudo, passar a vida com medo da morte a partir daquele momento começava a não fazer lá muito sentido. E agora, passado mais tempo ainda dessa conversa com o medo, e de outras tantas que mantive e ainda mantenho com ele, só posso concluir que passar a vida com medo de sentir dor é mesmo uma baita ilusão.
O seu, o meu e o medo de todos é o de sentir dor, seja ela qual for. O que é dor para você? Não sei e nem preciso saber. Mas ouso dizer que não há um ser na face deste planeta que não a experimente.
Nascer é doído.
Mudar é doído.
Perder um emprego é doído.
Perder quem se ama é doído, mas nem por isso deixamos de querer viver e de querer mais e mais da vida, mesmo com a plena consciência de que a morte baterá à sua e a minha porta.
A dor é inevitável e só quando a vivencio também posso experimentar a alegria que é a chegada de uma criança na família, a sensação de realização ao conquistar um novo trabalho, o prazer de me apaixonar de novo depois do fim de um relacionamento, a benção de fazer uma mudança que me traz mais paz, segurança e felicidade.
Sentir dor não te matará, mas tentar evita-la a qualquer custo certamente te fará morto em vida.
Cumprimente seu medo. Ele tem muito a ensinar sobre sua coragem, que somente te será apresentada se puder não ignorá-lo.